Capítulo 1: Quando Me Disseram o Que Eu Devia Ser (Antes Mesmo de Eu Nascer)
A Moldura Que Me Entregaram Sem Perguntar
Eu não me lembro, mas já haviam decidido por mim. Eu ainda não tinha aberto os olhos, mas o mundo já tinha escolhido o tom da minha voz, o tamanho da minha saia, o volume do meu riso.
Quando o ultrassom apontou: “É menina”, uma moldura invisível foi colocada ao meu redor. Me encaixaram numa forma que não era minha. Me envolveram numa narrativa escrita por mãos que não eram as minhas.
O Treinamento Silencioso Para Caber
Não perguntaram o que eu queria ser. Não me deram espaço para existir em branco.
Me pintaram de rosa antes de eu aprender a segurar um pincel. Me colocaram laços antes de eu saber o que era peso. Me ensinaram a ser delicada antes de me deixarem descobrir o que é força.
E assim eu fui crescendo. Não como quem se expande, mas como quem aprende a caber.
As Lições Invisíveis Que Me Moldaram:
- Ser menina é sinônimo de ser “boazinha”.
- Braveza é feia. Voz alta é agressiva.
- Autonomia é uma ameaça.
- Existir para ser bonita, mas sem exagero.
- Ser desejada, mas nunca vulgar.
- Ser competente, mas nunca arrogante.
Me educaram para a complacência, não para a autenticidade. Me ensinaram a pedir licença até para existir.
Quando a Moldura Virou Prisão
Eu fui programada para me adaptar.
- Para sorrir quando queria gritar.
- Para me desculpar quando queria ocupar.
- Para ceder quando queria existir.
O mais cruel? Tudo isso me foi entregue como se fosse presente. Como se fosse o “bom caminho”. Quando, na verdade, era uma coleira bonita.
O Dia Em Que Eu Explodi
Mas o mundo cometeu um erro: esqueceu que moldura nenhuma resiste ao fogo.
E um dia, de tanto me empurrar para dentro de caixas, de tanto me cobrar delicadeza, de tanto me obrigar a caber... eu explodi.
Descobri que a mulher que fui ensinada a ser... nunca fui eu.
Descobri que meu tamanho real é o tamanho do que não cabe.
Descobri que todo o treinamento pra ser aceitável era só medo deles. Medo do que uma mulher faz quando para de seguir roteiro.
Reflexão Final: Você Ainda Está Tentando Caber?
Desde o útero me pediam silêncio, mas eu nasci grito.
Quantas versões de você ainda estão tentando caber em molduras que nunca foram tuas?
Quantas regras você segue no automático, sem lembrar quem as escreveu?
Talvez o teu maior grito ainda esteja calado. Talvez o teu maior poder esteja no momento em que você para de pedir licença para existir.
E talvez, o que você chama de “personalidade”... seja só a coleção de caixas onde te ensinaram a caber.
Hoje eu me recuso a caber.
Hoje eu existo sem moldura.
E você? Vai continuar encolhida?

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