A Mulher que Guardava Silêncios — Conto Terapêutico

 

A Mulher que Guardava Silêncios: Um Conto de Cura

Mulher sentada entre cacos de jarro; pedras transformando-se em pássaros, imagem simbólica do conto “A Mulher que Guardava Silêncios”.

Um conto curto que mostra o preço de engolir palavras e o alívio que vem quando se permite soltar. Leia devagar — e depois faça o exercício que proponho abaixo.

O conto

Havia uma mulher que vivia numa pequena casa, de paredes grossas e janelas estreitas. Por fora, sua vida parecia calma. Por dentro, ela era feita de ecos.

Cada vez que alguém lhe dizia algo duro, ela não respondia. Engolia. Cada vez que desejava gritar sua verdade, ela se calava. Guardava os silêncios como quem coleciona pedras num jarro escondido.

No começo, o jarro era leve. Mas, com o passar dos anos, tornara-se tão pesado que ela já não conseguia erguer os ombros. Suas costas se curvavam, sua voz ficava rouca, sua respiração curta.

Um dia, numa madrugada de vento, o jarro ruiu. As pedras dos silêncios caíram pelo chão com um estrondo que acordou a casa inteira. A mulher se assustou, mas, em vez de juntar tudo de volta, ela se sentou no meio do entulho e começou a cantar.

Era um canto estranho, feito de palavras que nunca tinham sido ditas, de dores antigas, de segredos guardados. Cantou baixinho no início, depois com mais coragem, até que sua voz encheu os cantos da casa.

As pedras, ao ouvirem, se transformaram: algumas viraram sementes, outras se dissolveram em pó, outras ainda se transformaram em pássaros e voaram pela janela.

Naquela noite, a mulher compreendeu: — Guardar silêncios é deixar que o coração apodreça em silêncio. Libertá-los é permitir que a vida volte a respirar dentro de nós.

E desde então, quando algo lhe pesava na garganta, ela não engolia mais. Ela cantava. Às vezes com palavras, às vezes com lágrimas, às vezes apenas com um longo suspiro.

E cada canto a deixava mais leve, mais inteira, mais viva.

Interpretação breve (para leitoras)

Este conto não é apenas poesia — é mapa. O jarro simboliza tudo aquilo que você engoliu: palavras não ditas, limites não dados, dores não nomeadas. O estilhaçar é o momento em que a tensão física e emocional chega ao limite. O canto é a prática de expressão: não conserta tudo de uma vez, mas ativa a respiração e a devolução do próprio espaço.

O que esse conto quer despertar em você

  • Reconhecimento: perceber se você tem um “jarro” cheio de silêncios acumulados.
  • Permissão para expressar: entender que voz é prática — pequenas palavras soltas valem tanto quanto grandes decisões.
  • Ação concreta: transformar o silêncio em um gesto ritual (escrever, cantar, dizer não).

Exercício ritual (Escrita Terapêutica)

Pegue um papel e escreva como se estivesse falando com o jarro. Use estas perguntas como guia. Escreva sem editar por **8 minutos**:

  1. Quais silêncios ainda carrego no meu jarro? (Liste sem filtro.)
  2. O que em mim pede voz? (Nomeie pela primeira vez.)
  3. Se eu pudesse transformar meus silêncios em canto, que forma eles teriam? (Som, cor, palavra, gesto.)

Depois de escrever, leia com carinho — sem se punir. Escolha 1 ação pequena (falar com alguém, dizer “hoje não posso”, rasgar o papel em silêncio) e faça ainda hoje. O objetivo não é retrospectiva perfeita: é criar espaço.

Nota terapêutica

Este conto e o exercício são ferramentas de autocuidado e reflexão. Se, ao acessar esses conteúdos, emoções intensas emergirem e você sentir que precisa de suporte, procure um profissional de saúde mental.

Convite: Comente abaixo qual pergunta do exercício mais mexeu com você — ou escreva um trecho do seu canto (se sentir seguro(a)). Se curtiu, compartilha com uma amiga que precisa ouvir isso. Palavras espalhadas mudam o ar.

Escrevendo para se curar. Vivendo sem se esconder.

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