Conto Terapêutico: A Mulher que Reaprendeu a Andar Devagar
Durante anos ela correu como quem foge. Corpo adiantado, mente atrasada — uma vida em lista, um coração fora do ritmo. Até que as pernas pesaram e, pela primeira vez, ela parou. E ao diminuir o passo, reencontrou-se. Este conto é um convite: e você, quando foi a última vez que andou devagar?
O Conto
Durante anos, ela caminhou como quem foge. Seus passos batiam no chão apressados, o corpo sempre à frente da alma. Parecia que vivia correndo para alcançar um lugar que nunca existiu. A lista de tarefas era um rosário que ela repetia todos os dias. Dormir pouco, comer rápido, dirigir pensando no próximo compromisso. Seu corpo estava sempre atrasado para a vida que a mente inventava.
Até que um dia, no caminho para o trabalho, as pernas pesaram. Não era dor. Era um convite. Ela parou. Olhou em volta como quem acorda no meio de um filme que não reconhece. O vento tocava seu rosto; as árvores dançavam; ela não lembrava quando tinha olhado para elas pela última vez. Pela primeira vez em anos, ela começou a andar devagar. Cada passo, um encontro. O pé sentia o chão. O ar entrava devagar pelas narinas. O coração pulsava no ritmo certo. Ela aprendeu que andar devagar não era perder tempo — era encontrá-lo. E, assim, não andou mais pra chegar rápido: andou para não se perder.
Pergunta de Travessia
Se você diminuísse o passo hoje, o que começaria a enxergar que a pressa não deixa?
Exercício Terapêutico Guiado: Três Passos para se Encontrar no Caminho
1. O Despertar do Corpo
- Escolha um lugar seguro para caminhar (pode ser dentro de casa, um quintal ou uma rua tranquila).
- Antes de dar o primeiro passo, feche os olhos por alguns segundos e perceba os pés tocando o chão.
- Inspire fundo; expire devagar — retirando a atenção das demandas e trazendo ao corpo.
2. A Caminhada Lenta
- Ande deliberadamente devagar — cada passo consciente e completo.
- Ao pisar, repita mentalmente: “Eu chego junto com meu corpo.”
- Perceba: peso do pé, movimento muscular, ar na pele. Se a mente fugir, traga-a gentilmente de volta ao corpo.
3. O Olhar que Enxerga
- Escolha três coisas para observar com atenção (uma folha, uma pedra, um som).
- Pare e pergunte: “O que disso eu nunca teria notado na pressa?”
Integração Escrita
Depois da caminhada, escreva em um caderno (5–10 minutos): 1) Como estava seu corpo antes e depois; 2) O que você percebeu que normalmente passaria despercebido; 3) Uma decisão prática para criar mais passos lentos no seu dia. Feito isso, escolha uma ação simples para respeitar esse compromisso esta semana.
Atenção: se ao praticar surgir angústia intensa ou memórias muito dolorosas, pare, sente-se, respire e procure apoio (amiga, terapeuta ou linha de apoio). Práticas corporais podem trazer conteúdos sensíveis; cuide-se.
Convite
Faça a caminhada hoje. Depois volte aqui e conta: o que você viu que a pressa te roubava? Compartilhe nos comentários ou envie seu relato por mensagem — às vezes o passo lento precisa de testemunha.
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Categoria: Contoterapia — Tags: conto terapêutico, caminhada consciente, desaceleração, encontro corporal, prática somática

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