Se Escolher ou Ser Escolhida: Existência Feminina e Autonomia

 

Quando ser escolhida parecia o ápice da existência

Mulher se olhando no espelho, escolhendo a si mesma em vez de esperar ser escolhida.

Na adolescência, o corpo virou vitrine. Na juventude, a vitrine ganhou objetivo: ser escolhida.

Cresci acreditando que o auge da vida de uma mulher era o momento em que alguém — um ele — olharia pra mim no meio da multidão e me apontaria como única. Como se ser vista fosse destino. Como se ser desejada fosse medalha. Como se ser escolhida fosse vitória.

O espetáculo invisível

Passei anos treinando esse espetáculo invisível. Escolhendo a roupa que não era minha, mas que agradava. Controlando a risada pra não parecer escandalosa. Forçando leveza pra não ser chamada de “intensa demais”.

Tudo para caber na prateleira das “boas escolhas”.

O preço de ser a preferida

E o mais doente de tudo? Eu acreditava que isso era poder. Acreditava que conquistar olhares era sinal de que eu estava vencendo. Acreditava que “ser a preferida” era o prêmio final.

Mas nunca me perguntei o mais óbvio:
Escolhida por quem, exatamente?

  • Por aquele que não sabe o que quer?
  • Por aquele que tem medo de mulher inteira?
  • Por aquele que te mede por pedaços — coxa, peito, quadril — e não pelo todo?

Que valor existe em ser escolhida por quem nunca aprendeu a enxergar de verdade?

O holofote que queima

A sociedade nos treinou para acreditar que o olhar do homem era holofote. E nós, como mariposas, passamos a queimar nossas asas em busca dele.

E nesse jogo, quantas de nós se perderam? Quantas enterraram sonhos para serem “boas esposas”? Quantas engoliram a própria voz para não espantar o namorado? Quantas aceitaram migalhas de atenção só pra não se sentir invisíveis?

Ser escolhida não é poder

Ser escolhida não é poder. É prisão com tapete vermelho. É um contrato invisível que diz: “Seu valor está fora de você, depende do aval de alguém.”

E quando a escolha não vem? Ou quando ele escolhe outra? A gente se desmancha. Acha que não vale nada. Como se nossa existência tivesse data de validade: a rejeição alheia.

Escolher-se como revolução

Mas hoje eu digo: Eu não quero mais ser escolhida. Quero ser. Quero existir sem contrato, sem aval, sem aprovação.

Quero olhar pro espelho e saber que minha vida não é currículo de casamento. Que minha alma não é objeto em prateleira. Que meu corpo não é mercadoria disputada.

Não sou escolhida. Sou inteira. E quem não souber me enxergar assim, que se perca no próprio vazio.

Reflexão final

Quantas vezes você viveu como candidata ao prêmio de ser amada? Quantas vezes moldou sua vida para caber na escolha de outro? Quantas vezes confundiu validação com amor?

Ser escolhida não é vitória. É distração. A verdadeira revolução é se escolher todos os dias.

Agora me diga: em qual momento da sua vida você percebeu que precisa se escolher primeiro?


📚 Série O Que Descobri Sendo Mulher

Uma travessia visceral pela construção da nossa identidade. Se você chegou até aqui, não pare. Os capítulos anteriores também têm pedaços seus.

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